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100 coisas para fazer antes de morrer

julho-2015-editorial

Um grande amigo meu, cansado da vida sedentária a que se entregou depois da aposentadoria, acorrentado a um desgastante “dolce far niente”, começou a desanimar e a sentir-se inútil, ele, que desde a mais tenra idade sempre trabalhou. Esse é o destino dos que se aposentam sem ter um meio qualquer de continuar ativos em uma atividade diferente, não apenas para ocupar o tempo mas, em algo que lhes proporcione prazer. Assim se elimina o vácuo entre o passado e o presente, transformando-se em uma passagem agradável entre um estilo de vida e outro, normalmente aprazível.
Depois de transformar a vida na costumeira rotina, nós perdemos o hábito de arejá-la com novas ideias, e corremos o risco de nos transformar em autômatos. Meu amigo não se rendia a essa falsa ideia e buscava ansiosamente a saída. Certo dia, andando pelo bairro passou por uma livraria; depois de passear algum tempo topou com um livro que o interessou: “100 coisas para fazer antes de morrer”. O título, embora sugestivo, não chegou a entusiasmá-lo; era, no seu entender, mais uma dessas ideias vazias criadas para vender livros. Nesse mesmo dia, porém, refletindo sobre o título do livro: – Eu não tenho cem coisas para fazer, mas, ainda que pareça incrível, tenho três que gostaria de realizar: aprender a nadar; andar de bicicleta, e perder o medo de altura. De início essa escolha deixou-o confuso e envergonhado, pois ela, aparentemente, mais se parecia com um sonho, nada mais. Na realidade aquele sentimento era a própria vida convidando-o a sair da toca e tentar (ao menos tentar) enfrentar seus medos e afinal, aventurar-se a ser outro homem. Os primeiros passos foram difíceis; optou pelo que lhe parecia mais fácil: andar de bicicleta. Descobriu um grupo de pessoas que ensinavam como fazê-lo; corajosamente inscreveu-se no tal curso e, milagrosamente, aprendeu, em poucos dias a “difícil” arte de andar de bicicleta; essa primeira vitória removeu boa parte do medo, levando-o, temerosamente a aprender a nadar. E lá foi ele, crivado de zombaria pela família, a inscrever-se num curso de natação para idosos. Ao se deparar com a “imensidão” da piscina do clube, por pouco desistiu; apelou, todavia, ao seu amor próprio e suando e tremendo foi aos poucos conduzido a realizar mais um sonho. Depois dessa vitória, restava, talvez o mais complicado: medo de altura.
Após alguns meses, ele já descartando a ideia de perder o medo de altura foi convidado pelo neto a fazer um passeio de balão. Morrendo de medo mas cheio de esperança, aceitou. Regressou imensamente feliz pelo sentimento de segurança e confiança em si mesmo. E, rapidamente comprou uma passagem de avião.
Pequenas atitudes, grandes conquistas.

Luiz Santantonio
santantonio26@gmail.com