Troca de Banners Responsivo - Aleatório

Como viver sem esforço

junho-2016-editorial

Nós, humanos, somos espertos (?); e, com justa razão, chamados de reis da Criação. Essa esperteza, todavia, tendo em vista nossa insegurança de como viver, caminha em direção contrária aos nossos reais interesses. Se, insistirmos em viver dentro dessa contradição, de que nos vale o orgulho por tudo que chamamos de progresso? Se, de fato o período em que vivemos é de progresso, por que nunca conseguimos ser felizes?
O que nos falta mesmo quando temos tudo? Por que não temos resposta do que significa ter tudo? Na verdade, não conseguimos definir o que seja a felicidade nem o que significa “ter tudo”. Oded Grajew, afirma: “Foi vendida a ideia de que o caminho da felicidade passa pela aquisição da roupa de grife, do carro do ano, do último modelo de celular, ou do eletro doméstico. É o consumo e o acúmulo de bens sem limites e nunca saciados que propulsionam esse modelo suicida de desenvolvimento”.
Um dos objetivos desse progresso pernicioso carrega, em seu bojo, um sonho impossível: livrar-nos de todo e qualquer sacrifício, ou seja, quanto mais prolixas forem as invenções que nos evitem trabalho, quantas tarefas poderão ser realizadas com o simples premir de um inocente botão, mais e mais nos aproximaremos do paraíso terrestre. Os exemplos contrários, apesar de numerosos, não são suficientes para nos desiludir desse caminho. O amor pelas máquinas facilitadoras acabará (se nosso caminho continuar assim) nos imbecilizando totalmente: para que servem as canetas se existe uma forma fácil de escrever, utilizando o computador? Que sentido tem quem vive nas grandes cidades, preocupar-se com alimentação, se tudo o que precisamos está à nossa disposição no supermercado? Insistir em continuar com a utopia seria repetir centenas de facilidades, de como resolver problemas sem esforço. O leitor já terá visto como os animais que foram retirados da selva para viver entre os humanos deixam de lutar para conseguir seu alimento diário, tornam-se preguiçosos e adquirem sobrepeso, desfigurando seu tipo natural? O próprio ser humano é vítima do “moderno” sistema de vida e sonha que um dia alcançará, graças ao progresso, o tão sonhado “dolce far niente”. Por outro lado o conselho dos médicos, em relação ao aumento de peso, com o consequente surgimento de várias doenças (diabetes, coração, etc.) é sempre o mesmo: abandonar a vida sedentária, que é composta de vários inimigos: entre eles os piores são poltrona e televisão em excesso.
Hoje em dia, se de fato insistimos em afirmar que amamos a vida, é necessário desalojar a patologia do conforto a qualquer preço, e formar, no nosso íntimo, um exército valoroso e lutar sem trégua contra esse falso bem. O conforto é bom? Claro que é, porém precisa ser utilizado com prudência, sem descaracterizar nossa essência que é de luta; sem ela não há como justificar nossa existência.

Luiz Santantonio
santantonio26@gmail.com