De repente crescemos, vivemos e…. aos poucos vem a melhor idade, ou maturidade – velhice, a fase que nos desconcerta, com suas novidades e limitações!
Pessoas mais “experientes” aos poucos vão ficando mais limitadas e perdendo o antigo “poder”. Por vezes sentem vergonha em perder o fôlego e demonstrar maior dependência. Essa fragilidade que muitos acham triste abre por outro lado espaço para uma intimidade maior entre pessoas de uma mesma família. Esse momento da vida, tão delicado, é facilitado quando se tem a oportunidade de convivência, principalmente com crianças.
No núcleo familiar, com carinho, e muita paciência conseguimos ainda que raramente, fazer com que os idosos se abandonem e mostrem seus medos e sofrimentos. Mas, se os colocamos com crianças, este canal é papo reto, de certa forma muito mais fácil e os idosos se mostram muito menos receosos. Tenho observado convivência de crianças e velhos, avós e netos, e até bisnetos. Com simplicidade crianças convivem com eles e fazem, por exemplo, perguntas sem nenhum pudor, com a alegria e inocência que é peculiar ao primeiro ciclo da vida. Exemplo: -” Por que você tem essa verruga preta no pescoço? Gosta de sorvete? Você já comeu uma formiga?’ E por aí vai. Do pedestal da experiência os mais idosos deixam a cerimônia e rabugice de lado e, de repente se sentem iguais: necessitam da mesma forma de atenção / carinho/ risada e bom humor.
Ainda que fisicamente a agilidade falte aos idosos, a agilidade mental permanece e, a convivência se enriquece na junção de fases tão diferentes da vida. Há pouco tempo soube de uma amiga aposentada, que depois de 17 anos voltou a receber a filha e família (dois meninos, sendo um adolescente e, uma menina pequena) em sua casa, para a convivência diária. Após o reboliço da mudança, (agora o espaço teve que ser fracionado) aconteceu uma revolução também nos relacionamentos. A filha teve que ir à luta, no mercado de trabalho. Vovó passou a se exercitar muito mais fisicamente acompanhando os netos ao play ground do prédio, quando não estavam na escola, conheceu novas pessoas, e foi eleita a leitora oficial das histórias da hora de dormir. Vovó também teve que ter aulas – ainda que sintéticas- no computador com seu neto adolescente. Aprendeu a fazer pesquisa de preços nos diversos supermercados, pois a despesa aumentou, e a elaborar cardápios mais nutritivos pois há mais gente em fase de crescimento se alimentando, agora na casa. Quanta coisa nova em tão pouco tempo! Tudo isso deu trabalho. Ao mesmo tempo a fez sair da mesmice de sua antiga rotina e evoluir. O neto mais velho virou o ajudante dos lanches e jantares, já que quer ser chef de cozinha, no futuro. Outro dia o aspargo foi servido de diferentes formas no almoço e jantar, já que haviam comprado uma caixa para experimentar. Só faltou sobremesa de aspargo!
Nessas convivências acontecem os crescimentos para ambas as partes. Cada lado se encontra com a outra parte, o ciclo da vida se fecha; no fio da vida, com as duas pontas se faz o laço!
Maria Angelina Franceschini Brandão
Prima Escola Montessori de São Paulo
