Dia desses, na seção de cartas dos leitores do jornal do qual sou assinante, li, com satisfação, carta de uma professora, protestando contra a enxurrada de filmes dublados, exibidos tanto nos cinemas quanto na televisão. Ela argumenta, com muita propriedade, que isso é o resultado da falta mínima de escolaridade do povo, ou seja, a maioria é parcamente alfabetizada, e pouco, ou nada se esforça para dar um passo adiante, sem nos esquecer, contudo, que os estudantes são vítimas de um “sistema educacional” fragorosamente falido.
Com isso, o trabalho de acompanhar as legendas dos filmes converte-se num trabalho insano, em virtude, do baixíssimo nível de aproveitamento escolar. Esse desastre acaba por prejudicar a todos, obrigando os que sabem ler, a se sujeitar ao linguajar mecânico dos dubladores, que tentam imitar, monotonamente, as vozes dos participantes dos filmes.
Analisemos, a seguir, os mais ferozes inimigos da leitura, nos braços dos quais, insensatamente, nos entregamos a ponto de nos tornar escravos obedientes. Refiro-me a essa parafernália de aparelhos modernos, cujo poder é inversamente proporcional ao seu pequeno tamanho. A falta de uma escola que ensine, prejudica outro lado do aprendizado: a substituição da leitura pelos celulares (e outros aparelhos cujos nomes, de tantos que há, não guardo). Darei, para ilustrar, um exemplo do que ocorreu na semana passada, durante a espera para ser atendido, numa clínica médica: estava eu, sentado, tranquilamente, lendo, enquanto aguardava minha vez, quando adentraram uma senhora, acompanhada por duas mocinhas, sem dúvida, suas filhas. Nem bem chegaram a sentar-se, “empunharam” seus celulares e, desligadas de tudo o que as rodeava, passaram a se contatar, com devoção quase religiosa, com seu deus. Esse espetáculo, todavia, não se restringia a elas; a maioria das pessoas, que aguardava sua vez, adotava o mesmo procedimento: chegou, sentou, sacou seu celular para evadir-se “deste pobre mundo dos leitores”, enquanto que eu, pasmado com essa lição de “progresso”, lembrei-me da carta da professora, reclamando do excesso de filmes dublados. Excesso, como se vê, motivado pelo distanciamento das pessoas, ao saudável ato de ler. A leitura possui tudo o que o ser humano precisa para entender o mundo, conhecer pessoas, viajar sem restrições por todo o universo, cercado de prazer, pela forma quase mágica, proporcionada pela riqueza de ideias, contidas num livro.
A substituição sistemática do livro pelo celular (ou outro aparelhinho similar) obstrui o interesse pela leitura, deixando a pessoa alienada, presa a uma pretensa comodidade, limitando, perigosamente, o desenvolvimento de sua capacidade cerebral. Essa é uma verdade científica que pode ser confirmada por qualquer estudo moderno sobre a capacidade do cérebro. Espero… e confio, que o que foi dito não se converta em mais uma “Vox clamantis in deserto”.
Luiz Santantonio
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