Fiquei surpresa, quando uma família conhecida disse que ia à Disney, em julho, durante um tempo familiar, economicamente, complicado e comprometido, além do momento econômico geral não ser, também, adequado. A família tentava justificar o fato, dizendo que havia prometido aos filhos esta viagem e, que as crianças cobravam há um ano e, portanto não podiam falhar.
Fico imaginando a dificuldade dos pais para responder todas as expectativas familiares, achando que conseguem garantir a “felicidade” dos filhos, com presentes, viagens, para não desagradá-los. Realmente, fazem malabarismos para dar mais do que podem, provendo-os com muito, sem exigir responsabilidades em troca. Conheci grupos em que os filhos pareciam os “senhores” de seus progenitores. Os pais se comportavam como devedores de suas crianças e, dizer um, não, era uma forte dificuldade. Para estes pais frustrar a expectativa de um filho parecia ser um fracasso pessoal.
O dia a dia não traz somente situações de fácil resolução e conviver implica em atravessar, também, dificuldades. Parte importante da vivência educativa na família é o comportamento como clã, que reparte as experiências e regras. Isso implica em segui-las, em esforçar-se para atingir objetivos coletivos. Por vezes os interesses individuais não se conseguem atender; e por pior que isso possa parecer, traz a experiência importante e valiosa da percepção de que sempre há um limite. Este limite deve ser claro para o grupo família.
Frustração não é tabu e, também, faz parte das lições da vida. É necessário que no núcleo familiar exista espaço para se falar de descontentamento, de dor, de preocupação, sem que isso seja considerado um assunto ameaçador. Mostrar tristeza não é ser menor. É se defrontar com algo que nos desagrada, ou machuca, expondo a nossa realidade, em determinado momento. Tudo vai da forma como estes assuntos são abordados e qual o peso que se dá para a busca de saída, ou solução. O simples reconhecimento de que para determinada situação não enxergamos a saída passa a real constatação de que somos, às vezes, frágeis. Esta abordagem tira a falsa ideia da felicidade completa e de que é possível banir todo e qualquer sofrimento de nossas vidas. Os pais que entendem que frustração é diferente de fracasso passam uma importante lição para a nova geração.
Preparar os filhos como condutores de suas próprias vidas implica em mostrar a realidade que enxergamos, em demonstrar que na vida há momentos de dúvida e incerteza, em relação às escolhas. Nas estradas que trilhamos, apesar dos mapas, ou guias que tivemos, também encontramos imprevistos; desvios, e nem sempre temos a certeza da chegada.
Aqui fica uma mensagem aos pais: Há uma hora na vida que temos que dizer aos filhos: – “ is up to you” – ou, é com você. Sua responsabilidade! Seu risco! Não posso retirar todos os obstáculos de sua frente ou mascará-los. Acrescente também: “Tenha coragem para escolher seu caminho e eu estarei sempre que possível em sua retaguarda, torcendo”!
Maria Angelina Franceschi Brandão – Prima Escola Montessori de São Paulo
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