Eu, caro leitor, já havia jogado a toalha na questão do Natal. Estava totalmente desencantado com destino que o mundo lhe deu. Teve o mundo (todos nós) o descaramento de apoiar com o melhor de seus sorrisos o enterro do verdadeiro sentido do Natal. Até onde desceu a espiritualidade humana para adubar o progresso avassalador das campanhas publicitárias, no sentido de transformar uma data espiritual em mero balcão de vendas. Os meus sentimentos natalinos, todavia, reviveram ao ser presenteado com um desabafo do Papa Francisco, feito recentemente; diz ele sabiamente:
“Estamos próximos do Natal, teremos luzes, festas, árvores e presépios. Tudo falso, o mundo continua fazendo guerras porque não entendeu o caminho da paz.” Quando é o próprio papa que afirma “que é tudo falso”, o que mais precisamos, para fazer uma reflexão profunda, do quanto nos afastamos do verdadeiro sentido da data? Creio que já deveríamos estar fartos de encobrir nossa vida com falsos coloridos, e o que é pior: essa conduta enganosa é praticada pelos seguidores de religiões, que, descaradamente, simulam contrição diante do sagrado, enganando a todos e a si mesmos, sem “desconfiar” o quanto isso os afasta do sonho de alcançar a felicidade, seja lá o que ela signifique.
Lembremo-nos leitor, palavras de outro grande líder do bem: Martin Luther King, o famoso pastor americano, líder na luta contra a desigualdade racial, certa vez pronunciou as seguintes palavras: “O homem aprendeu a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendeu a amar seu semelhante”. Foi isso “mutatis mutandi” o que ele disse, com a significação óbvia de que nós somos capazes das maiores e mais difíceis façanhas: aprendemos e dominamos o que outrora era apenas um sonho impossível, porém, o mais simples e mais natural, ainda não aprendemos. Voltando ao nosso tema: no caso do Natal, cujo significado básico é a simplicidade, o amor, nós seguimos essa falsa natureza que implantamos em nosso espírito: uma espécie de aversão ao que é espiritual. Temos horror ao que é simples, singelo, puro. Esse é o sentido do Natal: uma festa simples, caracteristicamente espiritual, uma homenagem a um espírito puro, porém simples e bom. Ele se transmudou num enorme anúncio publicitário, no qual o legítimo senhor da data foi substituído por um simples vendedor mundano, fantasiado de “bom velhinho”. Quando e se houver participação de todos, mostraremos que a volta à simplicidade é o caminho mais fácil para recriar nossa vida, iluminando nosso caminho.
Luiz Santantonio
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