Nas origens latinas da palavra religião, encontramos o sentido de religar o ser humano com sua natureza transcendente, de tomar com atenção, por meio de um culto, cultivar, consolar, ou seja, promover união para, apaziguar. Religiosidade supõe reflexão, sentimento de comunidade, humildade do ego, superação de condicionamentos e transformação de si.
Não se expressa pela subordinação, pela massificação e achatamento da existência, nem pela falta de alteridade, arrogância, prisão na imanência do mundo, ou sacralização de bens de consumo que promovem uma falsa potência pessoal. Onde estão as origens do sentimento religioso? No início da vida, a memória encarnada na espera da continuidade da presença e do cuidado de alguém conosco, é a base do crer e da prática da oração. Diante de experiências de terror, num gesto no escuro, nos comunicamos em silêncio, num diálogo fecundo com algo que está além da nossa subjetividade. Criando-se um devir que supera a precariedade de nossa existência. Gilberto Safra, um psicanalista que tem estudado a condição humana no mundo atual, observa que, frequentemente, há uma dissonância entre religião e religiosidade. Explica que religião é uma instituição, um sistema cultural com normas e conceitos a respeito do divino, organizada em torno de um místico. Religiosidade é singular e se relaciona com o que cada pessoa considera sagrado, em sua história única, no encontro com o que ela não controla, psiquicamente, e que a transforma. É saudável se perguntar: como tem se relacionado com esse aspecto transcendente, inerente ao ser? E que condicionamentos instituídos provocam alienações no seu viver?
Psicóloga Laura S. Ueno (laura.ueno@gmail.com)
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